Seguindo as novas diretrizes do DHS, Krebs declarou em 2020 que a “desinformação” relativa ao processo eleitoral constituía um ataque à segurança nacional. Mas o conceito de “desinformação” de Krebs é bastante peculiar. Em abril de 2022, ele continuava a afirmar que a história do laptop de Hunter Biden era desinformação russa, e que foi importante a imprensa e as redes sociais terem coibido a discussão sobre o assunto ao longo do ciclo eleitoral de 2020. E também defendia a censura dos críticos ao protocolo governamental contra a Covid-19.

Além de diretor da Cisa, Krebs foi também presidente da “Comissão sobre Desordem Informacional”, uma curiosa organização abrigada no Instituto Aspen, organização sem fins lucrativos cujo objetivo declarado é criar “uma sociedade livre, justa e igualitária”. Em seu website, a referida comissão (que tem entre os membros o príncipe Harry, mais conhecido como marido de Meghan Markle) descreve seu propósito com estas palavras: “Esta iniciativa busca identificar e priorizar as fontes e as causas mais críticas de desordem informacional, oferecendo uma série de ações de curto prazo e metas de longo prazo para auxiliar o governo, o setor privado e a sociedade civil a lidarem com a crise contemporânea de fé nas principais instituições”. Em novembro de 2021, a entidade publicava um documento intitulado “Relatório Final da Comissão sobre Desordem Informacional”.

(O leitor atento certamente se lembra de que essa mesma expressão, “desordem informacional”, foi usada pelo ministro Ricardo Lewandowski para justificar a censura do TSE à produtora Brasil Paralelo, por causa de vídeos sobre a corrupção do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que Lewandowski e seus colegas queriam proteger. Com a expressão, o tribunal referia-se a um tipo de “desinformação” que, embora veiculasse notícias verdadeiras, conduzia o público a extrair uma conclusão indesejável. Tão indesejável quando concluir tratar-se de um pato a criatura que tenha bico de pato, pé de pato, pena de pato e faça quá-quá.)

Houve um estreito conluio entre agências governamentais, instituições acadêmicas, ONGs, redes sociais e o Partido Democrata para censurar cidadãos a respeito de vários assuntos

Tanto a “Comissão sobre Desordem Informacional” quanto o tal Instituto Aspen, que a sedia, integram uma vasta rede de organizações e iniciativas que, sob o pretexto de combater as “fake news” e o “discurso de ódio”, têm como único propósito controlar politicamente o fluxo de informações e opiniões na internet. Agindo de maneira finamente coordenada, essa rede construiu uma sofisticada engenharia de censura, que inclui suas próprias campanhas de desinformação e assassinato de reputação de opositores. A complexa engrenagem começou a ser destrinchada há alguns dias pelo jornalista Michael Shellemberger, em depoimento a um comitê da Câmara dos Deputados dos EUA que investiga o uso das estruturas do governo federal para a perseguição política, e, especificamente, o papel do deep State americano no fomento à censura doméstica e a operações de infowar lançadas entre 2016 e 2022.

Ao lado de seus colegas Matt Taibbi e Bari Weiss, Shellemberger foi um dos primeiros jornalistas a ar em primeira mão os Twitter Files, recebidos diretamente de Elon Musk. Os documentos revelam um estreito conluio entre agências governamentais, instituições acadêmicas, ONGs, redes sociais e o Partido Democrata para censurar cidadãos a respeito de vários assuntos, incluindo a origem do Sars-CoV-2, a eficácia e a segurança das vacinas, o laptop de Hunter Biden, a integridade eleitoral, as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis, entre outros.

Em seu depoimento no Congresso norte-americano, Shellemberger descreve detalhadamente o que chamou de “complexo industrial da censura”, por ele definido como “uma rede de instituições governamentais, não governamentais e acadêmicas ideologicamente alinhadas, que descobriram nos últimos anos o poder da censura para proteger os próprios interesses contra a volatilidade e os riscos do processo democrático”. Voltaremos ao tema – a e Chris Krebs – no artigo da semana que vem.