Retribuindo o favor
Curitiba, que serviu de exemplo em transporte para o mundo com o BRT (Bus Rapid Transit, ou ônibus de trânsito rápido), sistema em que os ônibus dispõem de vias exclusivas e integração otimizada para dar melhor vazão ao transporte, quer agora ser o exemplo do BRT elétrico, segundo o prefeito, Rafael Greca. “A ideia é que o modelo BRT, consagrado aqui, em Bogotá e em 200 cidades do mundo, seja o metrô de superfície elétrico e não poluente de Curitiba”, diz.
E Bogotá, que adotou o BRT em 2000 após estudar o funcionamento do sistema em Curitiba, pode fazer o caminho de volta para ajudar a capital do Paraná na missão.
A capital colombiana enfrenta problemas comuns às grandes cidades brasileiras no que tange ao transporte público, especialmente no cenário pós-pandemia, como perda de ageiros e o consequente ônus causado pela queda na arrecadação – o que leva as prefeituras a aumentar o subsídio ano a ano para dar conta dos custos do sistema.
No entanto, no que se refere à eletrificação do transporte, é destaque mundial. E, no médio a longo prazo, este fator pode, inclusive, impactar positivamente no valor da tarifa, ajudando a atrair novamente o usuário do coletivo. Afinal, embora sejam mais caros, ônibus elétricos têm manutenções mais baratas. E a escalada na aquisição mostra que o preço dos veículos tende a reduzir.
A capital colombiana conta com 1.485 ônibus elétricos em circulação, quase 10% do total da frota. Para se ter uma ideia, São Paulo tem 219 veículos elétricos circulando - embora apenas 18 sejam do modelo padrão, enquanto os outros 201 são trólebus, ônibus que circulam a partir de hastes no teto e que têm rotas pré-estabelecidas.
Já Salvador, a cidade brasileira com a maior frota de ônibus tradicionais elétricos, tem 20 modelos padrão. A capital paulista só deve ar Bogotá no final de 2024, a partir de uma legislação que estabelece que a frota da cidade deve ser composta por pelo menos 2,6 mil ônibus elétricos até lá.
Felipe Ramirez, diretor de Mobilidade da WRI, consultoria internacional que atua no desenvolvimento de estudos e implementação de soluções urbanas, conta que a eletrificação do transporte de Bogotá foi um tanto desafiadora, já que em todo o mundo não havia uma frota de transporte urbano nesses moldes tão grande em operação. “Isso exigiu precauções adicionais e a aquisição foi gradual, durante os últimos quatro anos. Hoje é a maior frota elétrica fora da China.”
Quando o projeto de eletrificação começou a ser implantado, em 2019, Ramirez era secretário de Mobilidade da cidade. Segundo ele, encontrar os modelos financeiros e operacionais adequados foi fator fundamental para o sucesso do projeto.
A WRI atua com análises que contemplam esses modelos conforme o perfil de cada cidade, entendendo as dificuldades e apoiando os governos. Na Colômbia, depois que a eletrificação começou a ser implantada, o próprio mercado começou a ter melhor aceitação pelos veículos elétricos. E com a competitividade em jogo, as fornecedoras começaram a oferecer melhores condições e preços. A exemplo da BYD, que ganhou todas as licitações de veículos elétricos em Bogotá.
Mas a base foi a lição de casa feita pelo governo colombiano, que estabeleceu diretrizes regulatórias favoráveis à transição. As tarifas de importação para veículos elétricos foram zeradas e o governo ou a oferecer descontos no imposto de circulação, nos seguros obrigatórios contra acidentes e nas revisões técnicas compulsórias.
Felipe Ramirez destaca ainda outros cases de eletrificação de frotas de sucesso mundo afora que podem servir para o Brasil. “Um exemplo muito bom foi o que realizamos na Índia, onde vários estados se reuniram a fim de padronizar o tipo de veículo que seria utilizado”, menciona. "Conseguimos fazer uma licitação de 5 mil veículos entre estes diferentes estados e cidades da Índia, e, com isso, houve uma redução de cerca de 30% no custo dos ônibus elétricos.”
Com o modelo validado, o o seguinte é escalar – o que tende a baratear ainda mais os veículos. “O que estamos fazendo agora é ar de 5 mil para 17 mil veículos e, posteriormente, chegaremos a 50 mil”, adianta. “Queremos fazer esses investimentos em diferentes lugares do mundo para torná-los mais rápidos. Esse avanço tecnológico é a transformação em direção a tecnologias que ajudem a reduzir os gases de efeito estufa”, conclui.
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